terça-feira, 16 de abril de 2013

Tremo com a Terra

A Terra treme.
E eu tremo com a Terra.
Sinto o meu corpo doer.
Sinto os olhos marejados de lágrimas.
Sinto a boca fechar-se num silêncio solitário.
Olho em volta e só vejo distorções. Todos querem ter razão.
Todos dizem "eu não mereço"...mas merecemos o quê então?
Os dias cheiram a sofrimento.
Onde estão os dias em que eu sorria na certeza que o amanhã seria melhor?
Mas não era, nunca foi.
Tudo é sempre igual. A angustia que hoje sinto é igual à angustia que senti faz hoje um ano e igual à angustia que senti faz hoje dois anos e à que senti faz hoje dez anos e é igual à que sentirei fará para o ano um ano...
Tudo é sempre igual.
A unica coisa que pode mudar é o que sentimos em relação a nós próprios e demora tanto tempo a mudar o que sentimos por nós...
Não vale a pena esperar o grande amor...o grande amor também anda à procura dele próprio.
Não vale a pena refugiarmo-nos nos filhos...os filhos procuram-se nos raios de sol que os encaminha.
Não vale a pena apegarmo-nos aos nossos pais...os pais procuram a eternidade que lhes traz   o que são.
Estamos sós. Numa solidão cósmica sem principio nem fim.
Solidão fria que nos atravessa a carne morna, mole de esperar o que não vem.
A Terra treme. O seu queixume é profundo e dorido.
E eu tremo com a Terra e embalo-me suavemente...tento curar o meu queixume tão dorido como o da Terra.
Talvez se me curar também consiga curar a Terra...
Talvez a Terra só trema porque eu tremo.
Talvez a Terra chore porque eu choro
Talvez se me curar eu cure a Terra.
Talvez...


.

terça-feira, 19 de março de 2013

Secret Garden - Nocturne


SEGUE O TEU DESTINO


Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

 (Ricardo Reis)

FALAS DE CIVILIZAÇÃO...


Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

 (Alberto Caeiro)                                      

SE, DEPOIS DE EU MORRER...





Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

 (Alberto Caeiro)                                       







Susana Félix - Meia Palavra




Só porque gosto...

TRANSPARÊNCIA



Diziam-me ontem que tudo seria melhor se falássemos com as nossas amigas como escrevemos no nosso diário.
Se calhar não foi assim que disse mas foi assim que eu quis ouvir.
Fiquei a pensar nessa situação. Fiquei a pensar como seria desnudarmo-nos completamente.
Mesmo quando dizemos que somos completamente transparentes, será que somos?
Será fácil dizer que temos ciumes, inveja, raiva...será fácil dizer que não gostamos de nós porque estamos gordas, porque o nosso cabelo está horrivel, porque nunca sabemos dizer no momento certo a palavra certa, porque nos calamos sem saber como reagir quando uma amiga nos atraiçoa, porque ficamos estáticas quando  o nosso homem olha para outra mais bonita que nós....porque...porque...porque...
Serei só eu que sinto assim?
Todas vocês estão bem resolvidas em todas as áreas da vossa vida?
Sou só eu que sofro quando não me compreendem e querem que seja aquilo que não sei ser?
Sou só eu que choro quando descubro que o amor não é eterno e que um casamento não é um vestido de tule e um ramo de flores exoticas?
Sou só eu que me escondo em mim mesma quando descubro que a sociedade não tem tempo para mim nem para as minhas revoluções pessoais?
Sou só eu que me calo quando me atacam com palavras que não são as minhas , nem tão pouco  palavras que quero começar a usar?
Sou só eu que tenho emoções?
Todas vocês são perfeitas?
Perfeitas aos olhos de quem?
Perfeitas para quem?
Como reagiriam vocês se soubessem que as vossas amigas têm ciumes e inveja de vós?...afinal não são as unicas...
Como reagiriam vocês se soubessem que os vossos maridos perfeitos, consomem pornografia nos empregos ou quando estão sózinhos e isso muitas vezes os satisfaz mais do que os vossos corpos?
Como reagiriam vocês se soubessem que ninguém acredita na felicidade que proclamais?
E se soubessem que todos sabem?
Complicado...reparem, há certos grupos que cairiam como abutres em cima de mim porque usei a palavra "complicado" , logo não sou positiva mas sim negativa...e atraio o que penso e o que digo e o que não penso e o que não digo...complicado...
Seriamos capazes de nos desnudarmos perante os outros ao ponto de mostrarmos quem realmente somos?
Não.
Talvez por isso não ouçamos o que nos dizem, mas somente o que queremos ouvir.



PRIMAVERA...OU OUTRA PRIMA QUALQUER?



O inverno este ano está frio e chuvoso. Sentimos um desconforto frio na pele, vindo das profundezas em movimento da Terra.
Dizem que a primavera chega amanhã pelas 11,02h...com esta chuva deve ser uma outra prima qualquer que não a primavera.
Atravessamos tempos dificeis. Dificeis a nível ecconómico, dificeis a nivel climático. Dificeis a nivel emocional.
Parece que tudo decidiu cair ao mesmo tempo sobre as cabeças deste punhado de seres humanos encarnados neste momento no planeta Terra.
O desconforto é fisico. A tristeza dói. A solidão pega-se à nossa pele sem sabermos muito bem de onde vem.
Dizem os entendidos que estamos em grandes mudanças.
Devem ter razão...se não tivessem estariam calados, que também é uma coisa que nos fica sempre bem quando as palavras que vomitamos não são melhores que o silêncio que as antecede.
Pois é...antes das palavras existe sempre o silêncio. O problema é que esse silêncio tem tantas palavras que se não saem, na maior parte das vezes aos magotes, ferindo os outros e a nós próprios, alojam-se no nosso cérebro e criam doenças pouco fáceis de resolver.
 O que torna igualmente grave falar e calar...pois...
De certeza que não deve ser para nos preocupar esta tendência que temos para falar como se fossemos grafonolas. Também se não falarmos, rebentamos...o que continua a ser pouco saudável.
Deve ser da mudança...
Deve ser do FMI...ou do governo...ou dos amigos...ou então deve ser da Terra que está como já não se via estar há alguns milhões de anos.
Tudo á nossa volta está em mudança e como consequência da mudança a solidão pega-se à nossa pele com o toque da sarapilheira...pobre punhado de humanos encarnados na Terra neste momento...

sexta-feira, 1 de março de 2013

Lisa Gerrard...


Voz de anjo...
Se os anjos cantam, um deles emprestou a sua voz a Lisa Gerrard.

Clarice Lispector...

"Minha força está na solidão.
Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias,

pois eu também sou o escuro da noite"
(Clarice Lispector)



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

MULHER

Doce é o sabor da mulher que se aceita como mulher.
Essa mulher sabe que ninguém tem o poder de lhe tirar o seu poder.
Não permite que outra mulher a fira por não conseguir gostar de si, deixa as palavras de ciume e inveja soltas no vento sem permitir ser ferida por elas.
Sente o aroma de partilhar momentos com o seu homem sem prisões de manipulações, não é presa porque não prende.
A mulher que sabe o que é ser mulher não pretende ser dona de nada nem ninguém, pois não pertence a nada nem a ninguém.
A mulher que em algum momento sentiu o doce sabor de ser mulher dança na Vida consciente que tudo ficaria em desiquilibrio sem a sua existência.
Esta mulher não se humilha debitando palavras, é o exemplo dessas palavras.




Lua de prata.
Minha Lua selvagem
Como adoro a solidão
que sopras na minha cara
e me faz sorrir em plenitude

A tarde daquele principio de outono caía devagarinho sobre a cidade.
Olhava o Tejo e serenava , deixando que o seu olhar se perdesse naquela estrada de prata que se estendia a seus pés.
Suspirou calmamente...sorvendo placidamente a magia daquele momento tão íntimo, sentindo o toque sensual da brisa na sua pele.
O seu porte altivo chamava a atenção. Sentia os olhares de quem passava por ali na azáfama quase aflitiva de quem só pensa em chegar a casa depressa.
O desejo no olhar dos homens, a inveja no olhar das mulheres.
Qual a diferença entre desejo e inveja?
Ambos querem algo que não têm.
Quantas vezes não é o desejo de um homem a inveja de não poderem possuir, e quantas vezes não é a inveja das mulheres o desejo de quererem ser mais do que conseguem ser?
Voltou as costas ao Tejo, sentou-se num pequeno paralelipipedo de cimento e observou quem a olhava.
Homens altos, baixos, gordos, magros tão diferentes mas tão iguais.
 Homens mal amados, com olhares perdidos no tempo em que acreditavam que encontrariam a mulher que os amasse, sempre pronta a dar sem nada pedir...uma mulher que não pede,é porque não ama.
 O amor semeia-se e colhe-se na mesma proporção, quando não é assim, é possivel que se esteja a falar de muito, mas nunca de amor.
Sempre achou interessante o fetiche masculino de adorarem "mulheres dificeis". Não compreendem que uma mulher só "é dificil" quando não quer.
Enfim...esse será um problema que a mente masculina terá de resolver...
Mulheres altas, baixas, gordas, magras tão iguais mas tão diferentes.
Mulheres de olhar cansado, com pele prematuramente enrugada. Mulheres que após um dia de trabalho fora de casa, corriam agora para os seus lares cientes do grande numero de horas que as esperava como grilhões, antes de poderem atirar o seu corpo transpirado de cansaço na cama sem perfume.
Mulheres que amavam principes que apareceriam nas suas vidas surgidos do nada, numa manhã de nevoeiro. Mulheres que não sabem amar homens  reais porque estes não sabem amar mulheres reais.
E assim girava a tarde repleta de olhares perdidos, sedentos do dia em que de novo se encontrariam.
O que  não sabiam é que esse encontro só iria acontecer no dia em que se encontrassem consigo próprios.
Ouviu o som do telemóvel.
Atendeu.
"Estou?"
Ouviu em silêncio durante alguns segundos.
E respondeu serenamente:
"Acabou. Não volto. Já te disse que só quero encontrar a esquina onde me perdi. Faz o mesmo..."
Desligou sem ouvir o que lhe continuavam a pedir.
Levantou-se devagar. Anoitecia.
O Tejo vestia-se agora de negro, preparando-se para a festa com as estrelas.
Suspirou calmamente...sorvendo placidamente a magia daquele momento tão íntimo, sentindo o toque sensual da brisa na sua pele.
E seguiu olhando em frente.
O seu porte altivo chamava a atenção.
Perdeu-se na noite mas perdeu-se consigo...nunca se poderia perder com ninguém que não fosse ela própria, pela simples razão de que só ela própria a poderia encontrar.












terça-feira, 19 de fevereiro de 2013




POEMAS DE RUMI

"Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.

Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu."


Oração da paz - Oração de S. Francisco de Assis

Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;Onde houver desespero, que eu leve a esperança;Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;Onde houver trevas, que eu leve a luz.Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar,que ser consolado;Compreender, que ser compreendido;Amar, que ser amado;Pois é dando que se recebe;É perdoando, que se é perdoado;E é morrendo que se vive para a vida eterna.